Bim.bon Componentes Modulares

Vista de um conjunto de casas a partir da praça interna, configurando espaços públicos como extensões dos espaços privados

O Prêmio bim.bon 2014 tinha como premissa a utilização da plataforma – que facilita a especificação de materiais e o orçamento de projetos arquitetônicos – para projetar uma moradia de projeção limitada a 10 por 10 metros que utilizasse materiais construtivos da categoria Indústria Mineira.

Bim.bon Componentes Modulares, além de desenvolver uma unidade de habitação, propõe a expansão da ferramenta virtual.

Com o intuito de potencializar a personalização das casas e visando uma construção rápida e seca e o uso sem desperdício dos materiais, adotou-se a coordenação modular para gerar um repertório de componentes (estrutura, vedações e cobertura) que podem ser facilmente recombinados. Para criar o repertório – baseado em uma medida de referência de 80cm -, valorizou-se sobretudo a imprevisibilidade (infinitas possibilidades de montagem), a receptividade (incorporação de materiais externos ao repertório original), a adaptabilidade (adaptação de componentes durante a montagem) e o reuso (reutilização de peças e reformas) (KAPP; OLIVEIRA, 2006).

Com o repertório de componentes, que seria disponizado em modelos 3d na plataforma Bim.bon, busca-se não apenas agilizar o trabalho de engenheiros e arquitetos, mas também possibilitar que o público geral possa ter papel ativo na concepção e planejamento de projetos arquitetônicos. A possibilidade de antever diversas soluções construtivas tornaria mais direta e clara a relação entre decisões de projeto, qualidades espaciais e custo final da obra. Objetiva-se, assim, que cada família possa projetar previamente o próprio lar de acordo com suas necessidades e desejos específicos, quebrando a repetição monótona e a imposição de um modelo único e padronizado de casa.

Viabilização. Esse processo de projeto e construção de habitação de baixo custo está alinhado com as premissas do Minha Casa Minha Vida – Entidades, que, na contramão do MCMV predominante, “estimula o cooperativismo e a participação da população como protagonista na solução dos seus problemas habitacionais” (CAIXA, 2014). Dessa forma, é possível vislumbrar um novo tipo de produção habitacional, no qual o Bim.bon Componentes Modulares seria a peça de articulação entre famílias, arquitetos e fornecedores.

Implantação alternativa. A configuração tradicional de lotes gera desenhos urbanos monótonos e repetitivos. Buscou-se uma implantação alternativa, com maior qualidade ambiental para a vizinhança, ao criar agrupamentos de sete casas com espaços intersticiais positivos que permitem apropriações pelos moradores e interação entre vizinhos. Ruas locais e pequenas praças internas conectam-se às habitações, configurando espaços públicos como extensões do espaço privado.

As dimensões do lote, de 10 metros de comprimento por 7,60 metros de largura, são condizentes com a capacidade de custeamento por meio de financiamento pela população de baixa renda e respondem às necessidades de diferentes famílias, possibilitando a ocupação total com layouts diversificados.

Menção honrosa no Prêmio bim.bon 2014: Casa 10×10

“A elaboração de um sistema construtivo flexivel, baseado em um repertório de componentes modulares, responde muito bem tanto à questão da racionalidade na construção quanto à possivel participação dos usuários no processo de construção ou de transformação da moradia.”

– Vinicius Andrade, jurado e sócio do escritório Andrade Morettin Arquitetos

Ficha técnica:
Projeto: Dobra Arquitetura

Vista interna da casa a partir da sala de jantar, com a sala de estar à esquerda e a cozinha ao fundo

Organização interna e materiais construtivos. A malha de 3,20 x 2,40 m, definida como base para a instalação dos pilares metálicos e vedações de modulação 80cm, proporcionou o desenvolvimento de um núcleo central que dá acesso direto à rua interna e ao quintal, que se integra à praça. Os quartos e uma sala comercial – que poderia abrigar um atelier de costura, por exemplo, ou se transformar um pequeno quarto – foram localizados em uma das fachadas, o que garante a possibilidade de acesso independente.

Evolução no tempo. A casa, entendida como processo, pode modificar-se ao longo do tempo de acordo com as demandas familiares. A ocupação inicial, financiada pelo programa MCMV Entidades, atenderia a uma situação fictícia de um casal com dois filhos. Em um dado momento pode ocorrer uma primeira expansão, com o acréscimo de um cômodo para comércio, e posteriormente, com o crescimento da família, pode-se incluir mais um módulo estrutural para criar um novo quarto.

Sustentabilidade. Acredita-se que uma arquitetura sustentável tira partido da implantação, aproveitando-se da iluminação e ventilação naturais para reduzir gastos energéticos. Partindo disso, propõe-se uma cobertura em sheds que garante a entrada de luz e a ventilação por efeito chaminé em todos os cômodos, mesmo quando o lote for totalmente edificado. Brises garantem a proteção para janelas localizadas em faces nordeste e noroeste, permitindo a entrada de luz sem aquecimento excessivo. As áreas verdes do conjunto contribuem para um microclima agradável, com áreas permeáveis e sombreamento por árvores.

Referências Bibliográficas

CAIXA Econômica Federal. Minha casa minha vida – Entidades. Disponível em: http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/programas_habitacao/entidades/entidades.asp. Acesso em: mai 2014.

FERRO, Sérgio. O canteiro e o desenho. 1976. In: FERRO, Sérgio. Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p.105-200.

KAPP, Silke; OLIVEIRA, Natália Mara Arreguy. Produção seriada e individualização na arquitetura de moradias. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo (PUCMG), v. 13, p. 34-44, 2006.

Seção transversal da casa, mostrando o funcionamento da cobertura em sheds que garante aproveitamento de luz e ventilação naturais

Implantação do conjunto no quarteirão, com a conformação de unidades habitacionais e espaços públicos